DE TODOS OS LUGARES: UM CORAÇÃO

 

Habitei todos os lugares
onde ecoaram todas as almas
e todas as palavras
prolixas e políticas.

 

Pedi pousada nas cavernas.
Ainda jovem varei as noites,
dancei no Massacre de Cromagnion.
E a todas as praças deitei ombros
em seus bancos de concreto e aragem.

 

Neguei o previsível
mesmo diante de teus olhos.
Minhas mãos - juro - colheram
a exatidão das tempestades
no suor das tuas.

 

De toda a terra neguei
a quietude, a mansidão.
Habitei os pássaros
e o chão prenhe da guerra
para amputações do sono.

 

Descri de todos os epistemas,
minha ciência foi alhures,
na coragem do voo
de uma asa de sol ao amanhecer.

 

Fiz êxodo dos meus tigres de outrora
e outros deuses que arranharam
os jardins dos meus sonhos;
Fui todas as vozes deste mundo
desde o início de tudo.


E de todos os lugares
- revoadas, países desmembrados,
membros suspensos na janela,
asas de uma folha ao vento -
a recordação era meu retorno:

 

Meu coração, meu coração...