SAUDAÇÃO AO TEMPO
“E agora, cavalheiros, deixo-vos uma palavra para ficar em vossas mentes e memórias”
- Walt Whitman -
Saúdo o meu tempo
e cada átomo esfacelado no asfalto das dúvidas.
Meu suor que a vós também pertence!
Meu sangue que foi de mim
e a cada glóbulo liberto.
Sorrio para meus braços,
pois ao vê-los sou destes
os amplexos e as armas.
Não aquele espelho erigido
nas sombras da sala, no azulejo do banheiro,
crucificado na cômoda, irritante em sua imobilidade
com seus móbiles de outrora.
Saúdo meu tempo
e meu corpo,
que a vós também pertence!
Eu creio em ti, minha língua
a lamber as horas,
como um gato a seu dorso.
E bendigo o enfarto que me assola
e meus pés que possuem as medidas do mundo,
e traduzo todo o porvir nos olhos,
pois me dói no peito
Qualquer ponte ruída no passado:
Safena, Edema, Emblema:
Meu enfarto a vós também pertence!
Saúdo a terra.
As raízes sem número
que me sugam aos meus ancestrais.
Aos fantasmas maltrapilhos
nas encruzilhadas,
pois as cruzes a vós também pertencem!